Minaretes. Assim são denominadas as torres ponteagudas que cercam as mesquitas turcas. São mais do que um elemento arquitetônico singular e não devem ser reduzidos a interpretação literal do seu sentido religioso: "apontam para o céu". Não! Não é isso. Os minaretes são a alma incisiva e estética da cidade. Impõem-se como um dedo indicativo, como as orações que ocorrem 5 vezes ao dia, como o mal odor dos tapetes das mesquitas, como a solitária imagem de Maria na Basílica de Santa Sofia. Ou, ainda como os insistentes vendedores do Grande Bazar. Impõem-se como a burca preta em meio ao sol intenso de junho a setembro. São como o som choroso que recita trechos do livro sagrado do islamismo, o alcorão. Um som acentuado pelo silêncio panorâmico da cidade. Uma oração sem face e que, por não tê-la, confunde-se com essa imagem arquitetônica, como se os minaretes entoassem, autonomamente, aquela melodia: sinos. Tão belos quanto o estreito de Bósforo, no seu perigoso e delicado equilíbrio entre o Oriente e o Ocidente, entre o Mar Negro e Mármara. Impõem-se como os palácios Dolmabache e Topkapi. Ostentam o excesso: de objetos, jóias, riqueza e mulheres em seus míticos Haréns. Um excesso impositivo, temeroso e hierárquico.
Mas, a noite _ nesse tempo imaginário da fuga _ a cidade muda, respira aliviada. Desaparecem, pouco a pouco, ao entardecer, as pontas autoritárias dos minaretes em um horizonte impreciso. Sobram apenas luzes que os circundam. Assim, a noite, os círculos tomam o lugar das pontas em uma bela metáfora. Pois, os círculos representam a eterna busca de escapar a prisão a que estamos condenados. Essa promessa sempre imperfeita da emancipação. Liberdade e prisão (eterna dialética circular).
E, é nessa promessa noturna, que Reina a mixagem entre o oriente e o ocidente (com privilégio para o segundo). As saias curtas aparecem, as meninas sorriem e o frio excitante se mistura as cores das lampadas azuis intermitentes da Ponte do Bósforo. Reina a juventude e toda a sua natural transgressão. Uma ousadia que questiona a tradição: _ Por que tem de ser assim? Por que rezar 5 vezes ao dia? Por que a burca? O jejum? Por quê? A tradição responde: Porque sempre foi assim. Mas, a transgressão em sua eterna réplica continua a pergutar: Mas, por quê?